quinta-feira, 10 de março de 2011

3. The International Teen-age Sensation

THE INTERNATIONAL TEEN-AGE SENSATION – RITA PAVONE – BBL

1.  Remember me [Shelley Coburn] – 5 Maio 64 – arranj.:  Teacho Wiltshire
2.  Wait and see [Larry Kusik-Richie Adams] – arranj.: Stanley Applebaum
3.  Big deal [James Smith-Phil Andreen] – arranj.: Teacho Wiltshire
4.  Don’t tell me not to love you [Chip Taylor] – arranj.: Stanley Applebaum
5.  I can’t hold back the tears [Kornfeld-Keller-Kauffman-Ross] – G. Sherman
6.  Kissin’ time [Kal Mann-Bernie Lowe] – 5 Maio 64 – arranj.: Teacho Wiltshire

1.  Just once more [Al Western] – 5 Maio 64 – arranj.:  Teacho Wiltshire
2.  Like I did [Ben Raleigh-Russ Damon] – 6 Maio 64 –  arranj.: Stanley Applebaum
3.  The boy most likely to succeed [Lor Crane-Nadine Lewis] – S. Applebaum
4.  Little by little [Jean Thomas-Ted Cooper] – 6 Maio 64 –  arranj.: Garry Sherman
5.  Too many [Earl Shuman-Leon Carr] – arranj.: Garry Sherman
6.  Say goodbye to Bobby [Stewart-Bryant] – 6 Maio 64 –  arranj: Garry Sherman

Terceiro LP de Rita Pavone lançado no Brasil, em Novembro de 1964. Foi o maior choque da minha vida, quando meu irmão mais velho chegou em casa, dizendo que havia um disco em inglês [da maior cantora italiana  de então] à venda no centro da cidade. A Radio Bandeirantes começou a tocar ‘Kissin’ time’ em seu programa ‘Telefone pedindo bis’. Só consegui comprar o disco no dia 24 de Dezembro de 1964, dando a mim mesmo meu presente de Natal.

No início de 1964, a cúpula da  matriz da RCA Victor, em New York, planejou esse LP com todo cuidado.  Sabiam que tinham que aproveitar o potencial de vendas da jovem cantora italiana, que vendera milhões de discos na Europa;  trazê-la para os Estados Unidos, e assim ampliar as vendas mundialmente.  O ‘fenômeno Rita Pavone’, eles chamaram aqui de a ‘sensação adolescente internacional’. Rita foi chamada aos estúdios A da RCA, na rua 24, para ser ‘trabalhada’ por Joe René, produtor independente. René  havia ficado milionário produzindo o 45 rmp ‘Tossin’ and turnin’,  na Belltone, para o cantor Bobby Lewis, ficando em 1º lugar por 7 semanas, no verão de 1961, na Billboard, terminando o ano como o disco mais vendido .

A tarefa não era fácil, já que Rita não falava inglês.  Contrataram uma especialista em inglês-para-estrangeiros  e deram a tarefa dos arranjos e regência de orquestra a 3 maestros dos mais competentes.  O repertório foi quase inteiro de músicas inéditas, ou pouco conhecidas.  Era uma receita quase infalível.  Só não contavam que o gosto do público havia mudado sobremaneira naqueles primeiros mêses de 1964, com a invasão dos Beatles e da música britânica, que desbancou os cantores ‘teens’ do tipo Bobby Rydell, Bobby Darin, Bobby Vee, Bobby Vinton [os famosos Bobbys], Frankie Avalon, e outros.  The times they were a-changing, como diria o outro Bob... Dylan.  Os tempos estavam mudando muito rápidamente. Rita nunca conquistaria os U.S.A.  Mas assim mesmo o disco é uma pérola de bom gosto e excelência musical.

REMEMBER ME’ [Lembra-se de mim?] – uma pérola o arranjo, e a interpretação de Rita é extremamente convincente, mesmo com uma letra devéras banal [submissa] para uma garôta [supostamente] norte-americana de 1964.  É a história de uma moça, cujo namorado não olha mais para ela, nem quando a encontra na rua.  Algo patético, já nesses anos pré-Women’s lib. Olha o horror: ‘Você passa por mim, como se v.nunca tivesse me conhecido. Você nem siquer me olha, e passa como o vento’. Daí vem a parte mais abjecta; ela olha p’ro rapaz e implora: 'Você se lembra de mim? Você se lembra de mim?' É realmente um ‘chute-no-saco’.  Mas a melodia é agradável e o acompanhamento maravilhoso dos melhores ‘session musicians’ de New York. Há 3 guitarristas nesta sessão, sendo Vincent Bell, que viria a ficar famoso em 1970 com o ‘Tema de Aeroporto’ – aquela musica que parecia água pingando.  Parabéns ao maestro Teacho Wiltshire. E parabéns também a: Donyce Brown, Francine Caroll, Marilyn Jackson e Anne Phillips, pelo maravilhoso coro que repete ‘remember me, remember me’...

WAIT AND SEE’ [Espere e veja] – é uma mocinha que se ajoelha para rezar e pedir para que o namorado não se desespere pois, embora ela esteje muito longe, do outro lado do oceano, com certeza vai voltar, e pede para que ele acredite nela. Linda melodia;  arranjo fenomenal com uso de xilofone, marimba, dulcimer, e instrumentos que não consigo identificar até hoje. Há até o badalar de um sino, quando Rita diz que ‘está rezando como qualquer outra jovem enamorada’.  Linda de morrer. Até o inglês está impecável. Nota: 100. Parabéns ao maestro Stanley Applebaum pelo magnífico trabalho de criar um ambiente propício ao romance.

BIG DEAL’ [Grande coisa!] – É uma garôta dizendo ao namorado assim: ‘Grande coisa!',que você arranjou um novo amor. O que v. acha que eu devo fazer? V. acha que ela gosta de você, n’é? Mas isso ela vai ter que provar para mim.’  É o oposto da patética ‘Remember me’.  Aí sim, Rita está afirmando que é ‘dona do pedaço’, embora eu ache que essa musica foi feita para ser cantada por homem, pois nesse pedaço ela diz: ‘You’re not her only one, she’s only out for fun’ [Você não é o único dela... ela só saiu com você para tirar sarro’]. Não é uma atitude de menina, e sim de menino, que sai com garôtas para aproveitar delas sexualmente. Bem, digamos que Rita aí seja ‘super-emancipada’ e está ‘revertendo os papéis’. Rita cantou ‘Big deal’ no ‘Ed Sullivan Show’ na WCBS e no ‘Shindig’.  O arranjo é excepcional, com muito metais [em braza], guitarra, sessão de rítmo ardente... enfim, Joe René não economizou em horas de estúdio e músicos para produção dessa obra-prima. Sendo um número ‘up-tempo’ [corrido] o inglês fica mais dificil de pronunciar, e os erros mais profusos, mas devido a alta qualidade geral da gravação e interpretação, vamos dar nota 9. Parabéns ao maestro Teacho Wiltshire.

DON’T TELL ME NOT TO LOVE YOU’ – Não me peça para não amá-lo – de todas faixas do disco é a mais parecida aos seus sucessos italianos. Uma balada lenta, cheia de violinos em serenata. A letra é bonitinha. Ela pede ao namorado que acredite que ela o ama de verdade, mesmo ele não sendo o melhor em tudo; mesmo eles sendo de classes sociais distintas; mesmo o mundo inteiro estando contra.  Muito lindinha a gravação.

‘I CAN’T HOLD BACK THE TEARS’ [Eu não consigo conter as lágrimas] – lá vai Rita segura-de-si novamente.  Ela diz: ‘Mandei ele embora pq. queria minha liberdade. Como eu iria saber que ia sentir saudade? Mas eu fui tão idiota, e agora eu perdi o cara que eu mais adoro.  E eu não posso mais conter minhas lágrimas.’ Daí ela ‘perde o contrôle’ e diz: ‘Eu vou chorar até meus olhos ficarem inchados e vermelhos. Eu vou chorar até que ele volte p’ra mim.’  Puxa vida... isso é que é uma volta de 360º.  Primeiro é durona e depois chorona.  A melodia é bonita e o arranjo de Garry Sherman é perfeito, com as vozes femininas fazendo um ‘pai-no pai-no pai-no’ de arrazar.  Rita está ‘sensazionale’ nesta faixa.

‘KISSIN’ TIME’ – gravação sensacional, embora seja ‘requentada’, pois Bobby Rydell a gravou para a Cameo, levando-a ao 11º lugar da Billboard, em Agosto de 1959.  É um rock desenfreado sobre a ‘sede de beijar’.  Seria assim uma espécie de catálago-de-beijos nas varias localidades dos U.S.A., como a ‘arvore beijadora’ [sim, é isso mesmo], beijocas em Baltimore, nas praias, bicocas em Detroit, lá em Tennessee, além de de beijos históricos como a batalha de New Orleans. É uma composição feita para o gênero masculino, já que um rapaz normal não ‘resistiria’ ao beijo de uma garôta bonita. A RCA Victor local resolveu lançar ‘Kissin’ time’ como compacto-simples e trabalharam as radios, mas o brasileiro nunca esperava uma Rita Pavone cantando em inglês, e não comprou o disco, embora o LP tenha tido vendagem garantida, pois o que se acha dele pelos sebos de São Paulo é uma enormidade. Musicalmente a gravação é um ‘escândalo’... é excelente.  O arranjador Teacho Wiltshire não precisaria fazer mais nada em sua vida, pois já fêz sua ‘obra-prima’.  Metais, realmente, pegando fôgo;  a guitarrinha do começo ao fim quenem o diabo gosta; enfim, um show de excelência.  A pronúncia de Rita fica a desejar... e muito. É compreensível, pois o texto é muito compacto para pouca métrica. Não dá para entender a palavra 'U.S.A.' que é repetida várias vêzes. Provavelmente, Rita não sabia o que estava cantando, somente aprendendo ‘fonéticamente’ o que seria registrado para a ‘posteridade’. E a posteridade não perdoa. Mesmo assim, eu continuo achando que é uma das melhores faixas do disco... e parabenizo o pessoal da RCA Brasileira que escolheu essa faixa para ser o single do LP.  Se essa não ‘emplacou’, nenhuma outra emplacaria.

‘JUST ONCE MORE’ – é o lado B do 45 rpm ‘Remember me’ nos EEUU.  É um rock com muitos metais.  É a musica que Rita abriu sua tournee brasileira de 1965; portanto ela se sentia a vontade para interpretá-la ao vivo. Alma Coogan, cantora jovem britânica, já tinha gravado ‘Just once more’ em 1963, mas não entrou no mercado yankee.  O inglês de Rita, mais uma vêz, a atrapalha.  Demorou anos para eu entender: ‘Now, when I saw you esterday, I never would have thought’ [quando te vi ontem, nunca teria pensado...]. É a situação da moça que já namorou bastante, que já beijou muito, mas ainda quer ‘uma vez mais’.  Rita a gravou em espanhol como ‘Pido paz’. Wanderléa entrou na onda, e a verteu  como ‘Peço paz’, direto da gravação portenha [ou madrileña]. Não é uma tradução exata, mas o sentido é o mesmo... alguém que está querendo mais do mesmo, e não se satisfaz nunca. Nota 100 para os metais e seção rítmica do maestro Teacho Wiltshire.

‘LIKE I DID’ – agora entramos na parte mais ‘calma’ do LP. Linda balada, com muitos violinos, violoncelos, flautas e piano. Interpretação magnífica. O texto é bobinho, mas as grandes paixões adolescentes, são, as vêzes, bobinhas mesmo. ‘Você encontrou uma nova namorada, mas eu duvido que ela te ame como eu.’ E aí vai em frente, nessa mesma veia. Muito meiga e lírica. Emocionante. O maestro Stanley Applebaum sabe como machucar os corações com suas nuances melódicas. Nota de louvor às cantoras Elise Bretton, Lillian Clarck e Lois Winter pelo magnífico coro de background.

THE BOY MOST LIKELY TO SUCCEED’ [O rapaz com mais chances de vencer na vida] – gravada em 6 Maio 1964, essa é, talvez a melhor letra do disco, além de ter sido escrita para uma menina [mesmo] cantar. É comum nos EEUU, quando se conclui o 2º grau [8ª série], que os alunos coletem dinheiro para a publicação de um livro de final de curso, com fotos de todos diplomandos e pequenas biografias. Há várias seções, como ‘O mais popular entre as meninas [ou meninos]’, o mais ‘intelectual’, ou o que mais se destacou em esportes. Há também  uma página entitulada ‘O rapaz [ou moça] com o futuro mais promissor’. Os próprios alunos votam em seus colegas, e o que obtiver o maior numero de votos é eleito: ‘The boy most likely to succeed’. A histórinha dessa faixa é o ‘rapaz com a maior probabilidade de quebrar o meu coração’. Um verdadeiro golpe de mestre poético. Rita está impecável nesta gravação.  O coral feminino [Elise, Lillian & Lois, novamente] dando todo apoio, e o arranjo do maestro Stanley Applebaum, uma espécie de bossa nova ou uma balada-rumba, é de uma delicadeza a toda prova. ‘If credit is due, they’d give it to you, ‘cause you’d be the boy most likely to succeed in breaking my heart’...  Se está faltando crédito [em relação a notas] ele seria dado a você [o crédito] pois v. sem dúvida é o rapaz com maior probabilidade de quebrar meu coração’. Uma obra-prima de 2 minutos e meio. Uma sinfonia ginasial. Nota: 100 ou seria A+?

‘LITTLE BY LITTLE’ – outra obra-prima em 2 minutos e 40 segundos. Trombones anunciam que ‘aos pouquinhos você está quebrando meu coração’. Os metais arranjados harmônicamente por Garry Sherman são um sopro de vida em nossos corações. Rita canta magistralmente. Na verdade, o lado B desse LP é quase que uma sinfonia. É daquele tipo de disco que v. ouve da primeira até a ultima faixa sem parar. Tem uma qualidade uniforme permeando todas as faixas, exceto a primeira, que é mais ‘up-tempo’.

‘TOO MANY’ – o coral feminino arraza, e Rita entra na hora certa, com a pronúncia correta. Outra pequena obra-prima. Garry Sherman não esconde sua preferência pelo uso do trombone como instrumento principal. Muitas vêzes, muitas lágrimas, muitas traições; quantas vêzes você acha que eu acreditaria nas suas mentiras? O texto não é dos mais inteligentes, mas a melodia é impecável. Gene Rockwell, cantor sul-africano, gravou essa musica, e nota-se, que ele copiou a versão de Rita. Ponto para ela, que fez escola até para os próprios nativos da lingua inglêsa.

‘SAY GOODBYE TO BOBBY’ – Diga adeus ao Béto – melancólica melodia, dá uma pontada de tristeza pois é o LP chegando ao final. Esse é um disco que aprendi a apreciar demais. Começa bem, e termina bem. O texto de ‘Bobby’ é comum entre as músicas para adolescentes da época. Me lembra ‘Take good care of my baby’, escrito por Carole King, e levado ao 1º lugar da Billboard, por Bobby Vee, em Setembro de 1961. Está nas imediações. ‘Diga adeus ao Béto, muitas vêzes ele me chamou pelo seu nome / quando v. estava perto ele mudava de comportamento / mas se você não quisé-lo, mande o Béto de volta p’ra mim.’  Pode ser piégas, mas essa abnegação é bonita: ‘Fique com o Béto pq. ele gosta mais de você do que de mim, mas se v. não o amar, não o maltrate, mande-o de volta para mim.’  Linda maneira de terminar um disco maravilhoso. Pode não ter cumprido seu objetivo original: de fazer Rita Pavone famosa nos Estados Unidos, mas fêz, pelo menos, uma pessoa feliz: eu!

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