quinta-feira, 10 de março de 2011

10. RITA, O MOSQUITO

RITA, O MOSQUITO    BBL 205    RCA Victor   –   lançamento:  Junho 1967

1.  La zanzara [Wertmüller-Gaspari-Marcello Marrocchi-Lanati] – O mosquito
2.  Il geghegè  [Lina Wertmüller – Bruno Canfora] – O geghegé
3.  Fortissimo  [Lina Wertmüller – Bruno Canfora]
4.  Qui ritornerà [Here it comes again] [Reed-Mason; v.: Nistri]-Aqui retornará
5.  Strong love [D.Malone-E.J.Silvers-M.Brown] – Amor forte
6.  Passione [Bovio-Valente-Tagliaferri] – Paixão

1.  Quanto sei antipatico [Wertmüller – Bruno Canfora] – Como v.é antipático
2.  ...E se domani [Giorgio Calabrese-Carlo Alberto Rossi] - ... E se amanhã
3.  I want to be loved by you [Stolhart-Harry Ruby-Bert Kalmar] – Quero ser amada
4.  I like you very much / Chica chica boom chic [Harry Warren-Mack Gordon]
5.  Io cerco la Titina [Daniderff] – Estou procurando a Titina
6.  La sai troppo lunga [Claroni-Enrico Ciacci] – Você sabe demais
7.  No, no, no [David Shapiro] – Não, não, não


o 5º LP de Rita Pavone lançado no Brasil, tem algo de único. É a única trilha-sonora de filmes de Rita lançada em qualquer lugar do mundo, com exceção de ‘Little Rita nel West’, lançada somente na Itália. Não se sabe como a RCA do Brasil teve essa idéia inovadora, já que a direção da gravadora nunca foi muito brilhante. Mas neste caso, deu mostra de genialidade, ao juntar num LP uma seleção tão fantástica. Talvez tenham se espelhado na Odeon, que lançou ‘Os Reis do Yé Yé Yé’, trilha-sonora de ‘A Hard Day’s Night’, dos Beatles. Isso é só especulação, já que no caso dos Beatles, a trilha-sonora já veio pronta da Inglaterra, ao passo que o LP ‘Rita o mosquito’ foi montado aqui no Brasil.

O mosquito’ foi o filme de maior bilheteria de Rita, mas é, na verdade um 'pastiche’ [pelo menos na área dos numeros musicais] dos programas televisivos ‘Stasera Rita’ [Outono de 1965] e ‘Studio Uno’ [Primavera de 1966]. Rita começou com a prática de imitar divas do cinema em Studio Uno 66. Ambos programas tiveram participação direta de Lina Wertmüller na produção musical, portanto muito natural que tivessem passado para a telona [um público mais abrangente] o que tinham feito para a telinha. Lina Wertmüller, sob o pseudônimo de George Brown, dirigiu Rita e introduziu Giancarlo Giannini, seu protegido, no papel do professor Dr. Jekyll & Mr. Hide, já que ele era um sonolento mestre de um internato de adolescentes de dia, e um rockeiro ‘cabeludo’ de noite. A película foi rodada na cidade de Nápoles, durante o Verão de 1966, e lançado no Outono do mesmo ano. Aqui no Brasil foi lançado em Junho de 1967.

A faixa título ‘LA ZANZARA’ [O mosquito] é um rock sem muita novidade, com guitarras estridentes e uma Rita mais estridente ainda.  O que se pode esperar de algo relacionado a pernilongos? Só zumbidos de toda espécie. Na verdade ‘La Zanzara’ era o nome do jornalzinho do colegio interno no qual Rita estudava [e aprontava]. Lina Wertmüller, compôs essa ‘maravilha’ com a ajuda e outros três. Uffa!

IL GEGHEGÈ’ –  rock de Wertmüller e do maestro Bruno Canfora é mais inspirado, com uma certa semelhança ao tema de abertura de Batman, a série com Adam West, que tanto sucesso fazia em 1966.  Na verdade ‘Il geghegé’ era a abertura do Studio Uno 66, sendo aproveitado para o filme. Geghegé é uma palavra inventada [por Wertmüller] que quer dizer ‘qualquer coisa’.  É um ‘non-sense’ total... mas de bom efeito.

FORTISSIMO’ talvez seja a obra-prima de Rita.  Talvez a musica mais linda gravada pela torinesa. Foi, originalmente, composta por Lina Wertmüller e Bruno Canfora, para o numero de encerramento semanal de Studio Uno 66;  como ‘Soli’ [do mesmo Canfora], com Mina, foi o tema de encerramento de Studio Uno 65. Tanto Lina como Canfora trabalhavam para a RAI, portanto nada mais natural que continuassem a parceria no filme realizado no Verão, a ‘estação baixa’ da programação televisiva.

QUI RITORNERÀ’ [Here it comes again] –  o lado B do 45 giri ‘Il gehegé’ é uma versão muito feliz do original dos Fortunes, conjunto inglês ‘beat’. Rita canta em ‘dupla’ consigo mesma. É mais um exemplo da versão suplantando o original, como ‘Cuore’ e ‘Scrivi’. Na película, Rita canta enquanto passeia de bicicleta pelas ruas ensolaradas de Napoles, em companhia de suas colegas de internato, sem supervisão de ninguem.

STRONG LOVE’, originalmente gravado pelo Spencer Davis Group, de Birmingham, um dos melhores conjuntos ‘beat’ e ‘rhythm & blues’ britânicos. No caso aí, Rita, que fugia do internato para cantar em ‘inferninho’ frequentado por ‘cabeludos’ e roqueiros, ganha o coração do ‘mestre’ Giannini, cantando esse rock infernal. Usando uma peruca loirissima, Rita, sardenta, se transformava numa ‘gata’ e estraçalha os corações dos ‘bofes’ locais. Quando batia meia-noite, Rita saía correndo de volta ao internato, numa alegoria a la Cinderella. Note que esta gravação de Rita é ‘left-over’ [sóbra] de ‘Stasera Rita’, seu programa televisivo do outono de 1965, onde ela era acompanhada pelos Talismen, conjunto ‘beat’ inglês residindo na Itália então.

PASSIONE’, canção tradicional napolitana dos anos 30, aqui revivida magistralmente pela Pavone, cantando no dialéto local. Rita voltaria a usar a mesma fórmula, gravando sucessos dos anos do Fascismo, como ‘Non dimenticar le mie parole’ [1967] e ‘Pippo non lo sà’ [1968].

QUANTO SEI ANTIPATICO’ é fenomenal. Particularmente é minha música favorita do LP, batendo até a famosa ‘Fortissimo’. Aliás, se pensarmos bem, ‘Antipatico’ seria uma ‘continuação’ de ‘Fortissimo’. O andamento ‘Canforiano’ do piano é encantador. Só Wertmüller com sua sensibilidade poderia ter escrito tal jóia. Nunca lançada em lugar algum do mundo exceto nesse LP.

‘... E SE DOMANI’, sucesso de Mina, a quem Rita [Santangelo] imita no filme, quando fica imaginando maneiras de conquistar o professor Giancarlo Giannini. ‘Mina’, altissima, vestida toda de negro, a câmera pegando-a num ângulo de baixo-para-cima, para dar a ilusão de ‘altura’. Rita faz um trabalho espetacular, inclusive ‘gozando’ a pronuncia ligeiramente ‘americanisada’ de Mina. Um primor. Além de tudo, a música é inspiradora. ‘... E se domani’, originalmente apresentada em San Remo em 1964, por Fausto Cigliano e Gene Pitney, não foi classificada. Mina, que assistia tudo pela TV, de seu quarto de dormir, anotava quais músicas que mais lhe agradavam, para depois gravá-las na Ri-Fi. Mina gravou-a, e levou-a ao 1o lugar... e Rita usou-a em seu filme technicolor. Perfeito.

I WANNA BE LOVED BY YOU’ [Eu quero ser amada por você], composição da década de 20, que Fred Astaire e Red Skelton cantaram em 1949, no filme ‘Three little words’, da MGM, que contava a história dos compositores Ruby & Kalmar, com Debbie Reynolds balbuciando a famosa frase ‘boop-boop-ee-doo’. Marilyn Monroe a cantou em 1959, na comédia ‘Quanto mais quente melhor’ [Some like it hot], de Billy Wilder. Rita aqui faz uma imitação da performance de Monroe.

I, YI, YI, YI, YI’ – ‘I LIKE YOU VERY MUCH / CHICA CHICA BOOM CHIC’ – duas musicas transformadas em uma só, ambas de ‘That night in Rio’ [1941], primeiro [e talvez o melhor] filme de Carmen Miranda para a 20th Century-Fox. ‘I like you very much’ fica como introdução orquestral, e a onomatopéica ‘Chica chica boom chic’ [imitação do ritmo do samba] é cantanda inteira por Rita, imitando Carmen Miranda. Pena que faltou algum brasileiro em Roma, que corrigisse os erros de português della Pavone, já que ela diz: ‘TENGO saudade da Bahia’...

‘IO CERCO LA TITINA’ – é Rita imitando Charlie Chaplin, em sua encarnação de Carlitos.

‘LA SAI TROPPO LUNGA’ é ‘sobra’ do Studio Uno ’66. Escrita por Enrico Ciacci, irmão do cantor  Little Tony, e exímio músico de estudio [session musician], além de membro de La Cricca, resposta italiana aos Les Surfs. Ciacci abre a gravação com uma guitarra de 12 cordas, seguido de trombones, num numero bem marcado. Em ‘Studio Uno’ Rita lançava uma nova dança, chamada ‘see-saw’ [gangorra].

NO, NO, NO’ é sobra mais antiga ainda, pois é do filme ‘Rita la figlia americana’, no qual ela contracena com The Rokes, conjunto inglês radicado na Italia. A gravação aqui no disco é dos Rokes, mas na trilha-sonora do filme é cantada pelo Giancarlo Giannini, que eu, particularmente, acho melhor.





 contra-capa de 'Rita, o Mosquito'

Obs.:  Note que ‘Rita o mosquito’ foi o ultimo LP de Rita lançado no Brasil pela RCA Victor. Tres anos se passaram até a Chantecler lançar ‘Zucchero’, que foi o último longa-duração de Rita por aqui até meados dos anos 70.  Portanto, poderíamos afirmar que ‘Rita, o mosquito’ foi seu último disco no Brasil em sua 1ª e mais importante fase.  O sonho terminou aqui para os fãs brasileiros.  Muitos [fãs] a abandonaram para sempre, alguns persistiram em sua paixão pela estrêla italianinha que conquistara o Brasil em 1964 e foi se apagando aos poucos até chegar ao quase esquecimento.  O tempo não para, como dizia Cazuza... ou ‘the times they are a-changing’ como dizia o Bob Dylan.




Rita Pavone e Gianni Morandi no set de 'Rita, o mosquito' - Laura Efrikian, mulher de Morandi, é uma das alunas do Colegio Maria Adelaide.

 

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