quinta-feira, 10 de março de 2011

Os Long-players de Rita Pavone

Meu objetivo é comentar os 11 albuns de Rita Pavone que tive durante minha vida. 

1. RITA PAVONE

 RITA PAVONE    BBL-147   RCA Victor – lançamento:  Outubro de 1963

1.  La partita di pallone [Carlo Rossi-Edoardo Vianello] – A partida de futebol
2.  Abbiamo sedici anni [Dino Verde-Bruno Canfora] – Nós temos 16 anos
3.  Clémentine Chérie [Camucia-Tallino] – Querida Clementina
4.  T’ho conosciuto [Carlo Rossi-Dansavio] – Eu te conheci [na outra noite]
5.  Sul cucuzzolo [Carlo Rossi-Edoardo Vianello] – No pico [da montanha]
6.  Le lentiggini [Dino Verde-Bruno Canfora] – As sardas

1.  Il ballo del mattone [Dino Verde-Bruno Canfora] – O baile da lajota
2.  Come te non c’è nessuno [Migliacci-Oreste Vassalo] – Igual a ti ñ há ninguém
3.  Cuore [Heart] [Barry Mann & Cynthia Weill; v.: Carlo Rossi] – Coração
4.  Alla mia età [Carlo Rossi-Roby Ferrante] – Na minha idade
5.  La commessa [Carlo Rossi-Piero Piccioni] – A balconista
6.  Amore twist [Bovenzi] – Amor twist


Primeiro LP de Rita Pavone lançado no Brasil, ficou melhor que o original,  pois contém ‘Cuore’ em lugar de ‘Pel di carota’.

LA PARTITA DI PALLONE’ abre o LP brasileiro com uns dos ‘riffs’ mais famosos da Era do Rock. A engenhosa abertura com guitarra, bolada pelo maestro argentino Luis Enriquez, foi, realmente o ponto que chamou a atenção do público para uma canção que já tinha sido lançada anteriormente, por Cocky Mazzetti, outra cantora jovem, mas que ‘passou batido’ pelo publico italiano.  Rita tinha acabado de vencer o Festival dos Desconhecidos, em Setembro de 1962 e assinou contrato com a RCA Italiana, como parte do pacote por  ter vencido tal certame.

RCA lançou o 45 rpm em Outubro, e a força de sua voz e seu entusiasmo prendeu a atenção do público peninsular, levando o disco para o 1º lugar.  Pensando bem, ‘La partita di pallone’ não é uma musica extraordinária, mas a interpretação e o arranjo são excepcionais. Talvez aí esteja o segredo do sucesso estrondoso, que abriu as portas da Italia [e do mundo] para essa pequena [grande] cantora vinda de Turin.  Relata a desconfiança de uma moça recém-casada, cujo marido sempre a deixa sosinha aos domingos, para ir assistir seu time jogar futebol.  Ela se revolta contra o descaso do rapaz, pensando que ele talvez esteja mentindo-lhe, e diz-lhe a queima-roupa se continuar assim, ela voltará para a casa da mãe. Talvez a proximidade do lançamento de ‘Pallone’ com o final  da Copa do Mundo de 1962, no Chile, tenha contribuído para o ‘estouro’.  A  Squadra Azzurra se classificou bem, mas o Brasil foi quem se sagrou bi-campeão, com os talentos de Garrincha e Amarildo.

ABBIAMO SEDICI ANNI’ – tema de abertura do programa ‘Alta Pressione’, o ‘Studio Uno-dos-jovens’ rockeiros italianos.  Cantada aqui por Gianni Morandi e Roby Ferrante, com vozes duplicadas e triplicadas para parecer que fossem eles I Collettoni [os rapazes de colarinhos-altos], grupo de dançarinos que ajudavam Rita na apresentação do programa. Dino Verde escreve sobre as varias atividades juvenis da época, como carros go-kart, juke-boxes, blue-jeans, cabelos longos, notas baixas em Latim, torcidas não-organizadas, campeões de futebol, etc. Musica de Bruno Canfora, o maestro-de-plantão do programa ‘Pressão Alta’. A ultima estrofe diz: Somos fãs de jogadores de futebol e cantores populares, mas nós torcemos só pela Rita, Rita, Rita ... Pa a vo o ne!!!

CLÉMENTINE CHÉRIE’ – o inspiradíssimo Luis Enriquez inova outra vêz, pondo a Marcha Turca, de Mozart como introdução desse rock ‘escatenato’.  Rita conta a história de uma menina que vive num mundo de fantasia, que vê peixes vermelhos no céu e pombos no mar... Pavone canta-a num filme homônimo rodado na França em 1963.

T’HO CONOSCIUTO’ – lindíssima balada, onde Rita prova que é cantora de ‘marca maior’.  Foi gravada tb. por Edoardo Vianello, Rosy e outros, mas essa gravação é insuperável.  Note a linha do baixo. Conta a historia de uma moça que acaba de conhecer um rapaz numa ‘festa de amigos’ e já está perdidamente apaixonada. Dansavio, é na verdade, pseudônimo do maestro Ennio Morricone, em mais uma de suas obras-primas.

SUL CUCUZZOLO’ [della montagna]  - No pico da montanha –  tem na introdução um coral Alpino típico, vindo logo em seguida o instrumental rockeiro. Edoardo Vianello, um dos autores, a gravou tb., mas Rita supera a todos. No Brasil fêz muito sucesso entre as crianças, pois a palavra ‘sci’ [ski] repetida, formava o som ‘xixi’, que as crianças adoravam.  Que criança não gosta de falar ou brincar com xixi e cocô?  Na verdade a canção é a descrição de um ‘resort’ de ski, com teleféricos, skis, neve, escarpas, etc. É o apogeu dos esportes de inverno.

LE LENTIGGINI’ – mais uma colaboração do letrista [paroliere] Dino Verde com o maestro Bruno Canfora, ambos trabalhando na produção de ‘Studio Uno 63’, o qual Rita Pavone acabou , à última hora, substituindo Mina, que havia ficado grávida, tendo que abandonar o projeto. Sorte de Rita, que tinha acabado de ser a apresentadora de ‘Alta Pressione’.  A sorte favorecia Rita de todos os lados.  Em ‘As sardas’, Verde escreve um texto exclusivamente para a Sardenta-maior.  É humoristico, pois apresenta uma Rita que faz de tudo para esconder as famosas sardas: carrega no rímel, pó-de-arroz; veste-se bem;  mas não adianta, o namorado diz que não sai mais com ela, pois ela tem muitas.... sardas. ‘É por causa dessas sardas horriveis que seu beijo nunca conhecerei’.

IL BALLO DEL MATTONE’ – O baile da lajota – que era uma contra-partida das danças mais frenéticas, tipo rock, twist, hully-gully, madison, etc. O baile da lajota era aquele que o casal ficava práticamente ‘parado’em cima daquele quadradinho no chão... era o ‘mela-calça’ da época.  A letra diz que a moça vai dançar rápido com todo mundo, mas na hora do ‘dançar agarradinho’, ah, vai ser com o escolhido. Outra composição de Verde & Canfora, exclusivamente para Rita.

COME TE NON C’È NESSUNO’ foi o segundo maior sucesso de Rita, logo em seguida de ‘La partita’.  Balada das mais felizes, com arranjo impecável de Enriquez.  Uma pérola em todos sentidos, tanto de musica como de letra.  A longuíssima nota final ficou famosa, com seus vários compassos até [quase] a perda de respiração da Jaguatirica, que tinha pulmões de ferro.

CUORE’ [Heart] é a única versão neste microssulco.  ‘Cuore’ se tornou a ‘marca-registrada’ de Rita durante sua carreira, até aparecer ‘Fortissimo’, em 1966. ‘Cuore’, na verdade, não aparece no LP original, pois lançado em 45 rpm mais tarde. Composição do casal Barry Mann e Cynthia Weill, que em ’64 lançaria ‘You’ve lost that lovin’ feeling’;  foi gravada originalmente por Wayne Newton, cantor famoso em Las Vegas. Carlo Alberto Rossi fez uma versão para o italiano muito incrível e Luiz Enriquez fez o resto, colocando um baixo solitário durante a duração da gravação, que representa as batidas do cuore-coração, além de um incrível repique de bateria, e até castanholas; isso, sem contar o imenso coral ao fundo. Enriquez deve ter se inspirado na ‘Wall-of-sound’ [parede de som] de Phil Spector, então o manda-chuva da gravadora Phillies [Philadelphia]. ‘Cuore’ pôs Rita Pavone no mapa das ‘cantoras verdadeiras’, já que até então ela era considerada apenas ‘rockeira’.

ALLA MIA ETÀ’ foi o terceiro sucesso consecutivo de Rita.  Uma balada muito bonita, talvez, inspirada em ‘Tous les garçon et les filles’, da Françoise Hardy, já que o tema é semelhante... as descobertas da adolescente assim que a puberdade se instala.  A seqüencia de acordes é previsível, dó, lá-menor, fá... mas o Oh oh oh de Rita já convence desde o início.  Composta por Roby Ferrante, jovem cantor-compositor, que assina aqui como Robifer, e que teve as portas do sucesso abertas por esse ‘single’; tendo morrido, prematuramente, em acidente automobilistico em 1966.

LA COMMESSA’ [A balconista] – uma pérola essa faixa.  Um acompanhamento jazzístico impecável, com Rita fazendo um ‘scat’ a la Ella Fitzgerald no interlúdio.  A histórinha é mais interessante ainda:  uma mocinha que trabalha de balconista numa loja, não vê a hora ‘di chiusura’ [acabar o expediente], para que seu amado a venha buscar.  ‘Oi, eu direi, e com ele, eu me irei’ [Ciao, amore, gli dirò, poi con lui me ne andrò].

AMORE TWIST’ – encerra o LP esse twist que foi o lado B do 1º compacto da Pavone. ‘Amore twist’ fazia sentido em ’62, mas já estava ‘defasada’ em ’63, já que o twist já tinha caído de moda.  Mesmo assim é uma ótima gravação. Rita canta-a em um dueto sensacional com Gianni Morandi em ‘Alta Pressione’.




2. MEUS 18 ANOS

MEUS  18  ANOS” – BBL-159 – RCA Victor
gravado: Setembro 1963; lançado no Brasil: Abril 1964.

1.  Datemi un martello [If I had a hammer] Lee Hays-Pete Seeger; Ital.ws.: Bardotti
2.  Non è facile avere 18 anni [Bernabini]
3.  Somigli ad un’ oca [Your baby’s gone surfin’] Duane Eddy-Hazlewood; Migliacci
4.  Ti vorrei parlare [Carlo Alberto Rossi & Roby Ferrante]
5.  Si fossi un uomo [Wenn ich ein Junge wär’] Buchholz-Loose-Müller; C. Rossi
6.  Quando sogno [On the sunny side of the street] Jimmy McHugh; v.: Gagis

1.  Che m’importa del mondo [Franco Migliacci-Luis Enriquez]
2.  Son finite le vacanze [Carlo Rossi-Pelleschi]
3.  Bianco natale [White Christmas] Irving Berlin; v.: Devilli
4.  Non c’è un pò di pentimento [Gianni Meccia]
5.  Sotto il francobollo [Carlo Rossi-Luis Enriquez]
6.  Auguri a te [Carlo Rossi-Luis Enriquez]

Segundo LP de Rita Pavone, lançado logo depois do Carnaval de ’64 terminou o ano como mais vendido no Brasil, seguido pelo ‘Fino da Bossa’ da RGE.

DATEMI UN MARTELLO’, uma versão ‘reconstruída’ de ‘If I had a hammer’, composta por Lee Hays e Pete Seeger em 1949, e gravada pelos Weavers, o maior conjunto de ‘folk music’ de então.  A música conclamava à liberdade e igualdade de direitos civis; o martelo aí, representando o ‘martelo’ que os juízes usam nos tribunais anglo-americanos. Não fêz muito sucesso, pois o movimento progressista estava em refluxo devido ao McCarthyismo reacionário.  Peter, Paul & Mary a re-gravaram em Agosto 1962, ficando entre as 10 mais da Billboard, e tornando-se quase que um hino [depois de “We shall overcome”] da luta pelos  Direitos Civis dos Negros Norte-americanos. Martin Luther King liderou uma Marcha sobre Washington, que mobilizou mais de 1 milhão de pessoas em 1963, fazendo  seu famoso discurso ‘I have a dream’ [Eu tenho um sonho], que fêz [indiretamente] o presidente Lyndon Johnson assinar a Lei dos Direitos Civis.

Sergio Bardotti, um novo ‘paroliere’[letrista] contratado da RCA Italiana, resolveu ‘brincar’ com a musica de Hays & Seeger, fazendo duas versões para Rita, que as gravou com o mesmo play-back.  A versão lançada no mercado foi direto ao 1º lugar, e conta a história de uma garotinha que está num bailinho, o qual ela está detestando; um baile chato, onde não tocam rock, surf ou hully-gully, mas só musica lenta. Ela se rebela contra tal quadradice, pedindo um martelo, para quebrar a cabeça de todos e destruir geral.  Um convite à rebeldia imediata, e não aquela política. É dividida em quatro partes, e termina num paroxismo de total violência e destruição, com um grito que ficou famoso por atormentar os ‘mais velhos’;  tanto que os adultos mais ‘rancorosos’ apelidaram Rita Pavone de Rita PAVOR-NE.

NON È FACILE AVERE 18 ANNI” é uma balada lenta, que se tocasse no baile descrito na 1ª faixa, Rita, fatalmente destruiria com uma martelada bem dada.  No entanto deu título ao seu 2º album na Italia. No Brasil a RCA ‘traduziu’ para ‘Meus 18 anos’.

SOMIGLI AD UN’ OCA” [Você se parece a um ganso] é mais uma versão. Esse é o LP de Rita com mais versões [5]; perfazendo quase metade do album. Esse rock frenético é versão de ‘Your baby’s gone surfin’” [Seu brotinho foi surfar] do guitarrista Duanne Eddy e do cantor-compositor Lee Hazlewood, que ficaria famoso por gravar varios discos com Nancy Sinatra [‘These boots are made for walkin’, ‘Summer wine’, ‘Jackson’ etc.]. Mais uma briga aí:  o namorado de Rita diz que ela se parece a um ganso; e ela, lógicamente, rebate a acusação com vigor [e gritaria], dizendo que, além de ganso, ele se parece a um macaco comendo banana. Isso tudo em altos brados.  No finalzinho, Rita berra um monólogo, para pavor dos adultos já aludidos antes.  Essa gravação foi incluida no 1º filme da Pavone, ‘Rita, la figlia americana’, no qual ela contracenou com Totò.

TI VORREI PARLARE’ [Gostaria de falar com você] é uma linda balada sobre as inadequações e inibições tão comuns aos adolescentes.  Musica do jovem ‘cantautore’ [cantor-compositor] Roby Ferrante, que já tinha escrito ‘Alla mia età’ [Na minha idade – outro conto adolescente], e se tornaria famoso em 1964, dividindo a canção ‘Ogni volta’, com Paul Anka, no palco do Festival di San Remo. A letra é de Carlo Alberto Rossi, que assina mais quatro musicas neste LP, além de uma versão.  N.B.:  a faixa de ‘Ti vorrei parlare’ que aparece nesse micro-sulco está cortada pela metade.  Não sei a razão de tal vandalismo cultural.  Se v. quiser ouvir a gravação inteira, terá que ter o compacto-simples ‘Scrivi!’, no qual ela aparece como lado B.

SI FOSSI UN UOMO” [Wenn ich ein Junge wär’] [Se eu fosse homem] é a 3ª  versão; agora de um sucesso que a própria Pintadinha gravou na Alemanha; musica feita especialmente para ela por Heinz Buchholz & Günter Loose, e arranjada pelo maestro Werner Müller, que era um tipo de Ray Conniff da Baviera. Rita fala das vantagens de ser homem em relação a ser mulher:  poder chegar em casa tarde, sem ouvir a mãe gritar; pertencer a um clube de futebol e poder tornar-se um centro-avante internacional; poder sair de motocicleta por aí, etc. Só que no final, Rita declara que ser ‘abraçada e beijada pelo namorado’ compensa ser mulher. É uma atitude corajosa de Rita ter gravado uma musica com um titulo desse: ‘Que formidável se eu fosse homem’, pois Rita era criticada em alguns lugares por ser muito ‘masculinizada’;  é como se a Maria Bethânia gravasse ‘Paraiba, masculina, mulher-macho, sim senhor...”

QUANDO SOGNO” [On the sunny side of the street] é quase que um ‘bis’ da 'profanação' de 'If I had a hammer'. Aqui a ‘dessecração’ foi feita em cima de um dos maiores ‘standards’ do jazz Yankee: ‘On the sunny side of the street’ [Do lado ensolarado da rua], gravado por Louis Armstrong, Bing Crosby e o resto dos U.S.A.  A letra se resume num sonho que a Rita tem quando dorme... só pensa em namorar o brotinho... e de-repente começa a berrar seu grito-de-guerra, que no outono europeu de 1963 era o Hully-Gully... uma das muitas coqueluches dançantes da época. Para aqueles que criticavam Rita por gritar [‘urlare’, em Italiano]; essa faixa é um prato cheio, pois Rita berra até os últimos decibéis;  além de ir subindo de tom até as alturas do impossível. Hu, hully, hully-gu, hully-gully.  O acomponhamento é rock, rock, rock, com muita guitarra elétrica. O resultado é desconsertantemente positivo.  Rita parecia o rei Midas em 1963: tudo que tocava virava ouro.

CHE M’IMPORTA DEL MONDO” é umas das mais belas melodias gravadas por Rita; feita especialmente para ela pelo maestro Luis Enriquez Balacov e o ‘paroliere’ Franco Migliacci, o mesmo de ‘Volare’.  Rita canta em ‘double-track’, ou seja, canta junto com si mesma. ‘Fox-balada’ altamente dançável, principalmente quando tocada em stereo, com marcação forte do rítmo, como se fosse uma gravação da orquestra de Bert Kaempfert. Mais um ‘tento’ para Luis Enriquez, o gênio da Via Tiburtina km. 12 [estudios da RCA Italiana]. Rita aparece cantando-a no filme ‘La noia’, estrelado por Bette Davis, Horst Buchholz e Catherine Spaak.

SON FINITE LE VACANZE”, um rock-pauleira, com um solo de saxofone de fazer inveja ao Manito [the Clevers] e um solo de guitarra de fazer inveja aos Shadows. ‘Acabaram-se as férias’ conta a historia de uma garota, talvez filha de operários, que tem que passar as férias deVerão com a família, numa daquelas colônias de férias construidas pela Fiat ou qq. grande corporação de então.  Só que a menina está de namoro com um ragazzo [rapaz] que vai ficar na cidade [que se esvazia como em cidade fantasma do velho oeste americano]... a garota só pensa na hora de voltar e ‘perde’ suas férias, ficando emburrada em seu quarto.

BIANCO NATALE’, versão italiana da musica natalina de maior sucesso de todos os tempos. A gravação original, “White Christmas”, é de Bing Crosby, para o filme de mesmo nome, rodado em 1942, e desde então ‘Natal Branco’, entra na parada todo Dezembro.  Rita conseguiu o impossível:  gravou melhor que todos.  O arranjo de Luis Enriquez é o segrêdo do sucesso; o ritmo é intrigante; as cordas enlevantes;  o coral, cantando em Inglês no interlúdio, é angelical;  e o final apoteótico, logo seguido de um: ‘non soffrire più uh uh uh uh’, faz com que a versão de Rita seja a melhor 'resolvida', bem diferente do original de Irving Berlin, que parece não ter um final 'apropriado'. Aliás, é irônico que Berlin, sendo Judeu, tenha escrito o maior sucesso da Cristandade de todos os tempos. Equivaleria ao Padre Marcelo escrever o maior sucesso do Ramadan, dos Mulçumanos, ou do Yom Kippur, dos Judeus.

NON C’È UN PÒ DI PENTIMENTO” [Você não se arrepende nunca], escrito pelo ótimo Gianni Meccia, de ‘Pssi pssi bao ba’ e ‘La cabina’, entre outras, é um rock muito bem balançado, com acompanhamento de muitas guitarras elétricas, bem ao estílo de 1963-1964.

SOTTO IL FRANCOBOLLO” [Debaixo do sêlo] é outro rock bem bom.  Na verdade Luis Enriquez simplesmente ‘chupou’ a gravação de ‘Ce petite jeu', que Rita tinha gravado para o mercado francês. Ele aproveitou o mesmo ‘play-back’, e Carlo Alberto Rossi colocou uma letra original. Uma letra inspirada, já que fala da historinha de uma menina que escreve para o rapaz que ela gosta, mas não quer que ninguem saiba que existe um namôro entre os dois.  Então ela combina com o mancebo, que ‘debaixo do sêlo’ escreverá um monte de ‘frases de amor’; mas que na carta, propriamente dita, eles tem que mostrar que ‘siamo amici e nulla più’ [que somos amigos e nada mais]. Uma idéia bem original.

AUGURI A TE” [Parabéns a você] é a derradeira faixa de um LP feito na terra-dos-sonhos.  Quando se termina de ouvir esse album, a gente se sente como alguem que viajou para o mundo da fantasia.  O maestro argentino Enriquez apresenta aqui uma melodia linda;  o coral das 4+4 de Nora Orlandi um canto triste; os violinos anunciam o final de disco, e a letra do Carlo Rossi diz: “Parabéns a você do mais profundo do meu coração.  Todas as coisas que o mundo pode te dar, todas as coisas, que, no mundo você sonhou, eu as desejo a você, eu as sonho para você, meu querido, meu amor...”  A faixa termina em ‘fade-out’... e o LP termina, com você querendo mais... só que esse ‘mais’ não viria nunca mais, pois todos os albuns subseqüentes de Rita não tiveram a coerência deste aqui.  A não ser, talvez, ‘Gian Burrasca’ [1964], mas daí é um LP ‘temático’, ou de ‘trilha-sonora’, ao passo que ‘Meus 18 anos’ é um LP de ‘carreira’... e que carreira!



4. Ein Sonny Boy und eine kleine Signorina


EIN  SONNYBOY  UND  EINE  KLEINE  SIGNORINA – LPS-10011

1. Ein Sunnyboy und eine Signorina (Karl Götz-G. Loose) Rita & Anka 30.10.64
2. Okay, okay   (Rossi-Vianello; German words:  Hans Bradtke) – 4 Oct 1963
3. Zwei Mädchen aus Germany  (Heinz Buchholz-Günter Loose) – 28 April 1964
4. Wenn ich ein Junge waer’ (Heinz Buchholz-Günter Loose) 4 Oct. 1963
5. Sunshine Baby (Think about it) Paul Anka; v.:  Günter Loose – 28 April 1964
6. Wenn du deinen kleinen Brüder siehst (Heinz Buchholz-Joachim Relin)26 Sep 64
7. Der schönste Ankerplatz  (Heinz Buchholz-Hans Bradtke)  30 Oct. 1964

1. Mein Jack, der ist 2 Meter gross  (Johannes Strauss; C.U.Blecher)  23 Jan 64
2. Elisabeth  (Heinz Buchholz-Günter Loose)  30 Oct. 1964
3. Es ist aus (Heino Gaze-Fred Ignor)  26 Sept. 1964
4. Sweet sweet Rosalie  (Klaus Munro)  27 April 1964
5. Peppino aus Torino   (Heinz Buchholz-Günter Loose)  26 Sept. 1964
6. Dorch du has keine Zeit  (Paul Anka-Hans Bradtke)  27 April 1964
7. Kiddy, Kiddy kiss me (Klaus Munro) Rita & Paul – 30 Oct. 1964

Lançado só na Alemanha:  Dezembro 1964.

Desde o aparecimento do fenômeno Rita Pavone na América do Sul em 1964, já se sabia que ela tinha gravado em alemão.  Em 1965, ela estava em 1º lugar na Argentina com ‘Pido paz’, cantada em espanhol. Em 1966, o radio em São Paulo estava em polvorosa pois Hélio Ribeiro, radialista radical e empreendedor, tomou as rédeas da Radio Tupi e a transformou em uma emissora jovem e dinâmica da noite p’ro dia. Helio deu o ‘slot’ (horário) das 9:00 às 10:00 da manhã para um disc-jockey uruguayo chamado Alberto Moraví, que apresentava o ‘Discômetro Mundial', onde tocava os ultimos sucessos da Europa e Estados Unidos em discos importados, isso é, discos que não necessariamente seriam lançados no mercado brasileiro. Lá se ouvia Cliff Richard (‘Maria Nomás’) em espanhol, Petula Clark em italiano (‘Ciao, ciao’), the Beatles em alemão (‘Kom gib mir deine Hand’), the Rolling Stones em italiano (‘Con le mie lacrime’), Rita Pavone em espanhol (‘Vivas las papas con tomate’), as Gêmeas Kessler em italiano (‘La notte è piccola’) etc.

Moraví tocava Rita em alemão quase que diáriamente.  Foi assim que seus fãs começaram a se familiarizar com ‘Peppino aus Torino’, ‘Bye bye blue Jeans’ (Adiós pantalones azules), 'Ich frage meinen Papa' e   outras.  Os fãs ficavam ávidos para conseguir essas raridades em disco, pois gravadores cassettes só vieram a aparecer em 1972. Eu tinha vários pen-pals europeus, principalmente italianos. Certa vez recebi carta de uma moça alemã morando na Italia, que me disse que ela tinha um LP em alemão cantado por Rita Pavone & Paul Anka.  Depois de algum tempo, nós fizemos uma troca: eu mandei-lhe o ‘Rita o mosquito’, que era uma raridade na Europa, e ela me enviou seu exemplar de ‘Eine Sonny Boy und eine kleine Signorina’ (Um rapaz alegre e uma pequena senhorita(.

Mas como tudo que é bom dura pouco, um dia liguei o rádio na Tupi e o Moraví não estava mais no ar. Só tempos depois soube o que aconteceu: o querido DJ Alberto Moraví fora proibido de continuar a apresentar seu programa matinal devido a uma representaçã do Sindicato dos Jornalistas e Radialistas na Justiça contra o fato de um estrangeiro (Moraví) estar tirando o emprego de brasileiros. Foi um chute no saco! O melhor programa do radio, simplesmente, desapareceu, fechando as portas para um mundo de sonhos que representava as novidades vindas da Europa e EEUU. Estávamos mais pobres!  Mas nesses poucos mêses de ‘Discômetro Mundial’, deu para saber que havia um mundo encantado fora do Brasil.  O bastante para me por na estrada que futuramente me levaria a morar no exterior.

Do LP de Rita & Paul muito se falaria. Me fêz até começar a estudar alemão para entender as músicas.  Posso não falar corretamente a língua de Göthe, mas consigo entender textos tendo ao lado um bom dicionário.  Vamos ver faixa por faixa o disco, bitte!


‘EIN SONNY BOY UND EINE SIGNORINA’Um rapaz alegre e uma senhorita – Esse é o título do 45 rpm, pois o título do LP tem o acrescimo do adjetivo ‘kleine’ (pequena) para senhorita! Musicalmente lembra o Country & Western que se fazia na Alemanha. Um dueto bem engendrado onde Paul Anka leva a melodia em tenor e Rita a harmonia, em tom mais baixo. Mesmo não sabendo dos detalhes da operação para juntar os dois astros da RCA, supõe-se que Anka exigiu o lugar de destaque e Rita consentiu, talvez, por ele ter sido seu ‘teen-idol’ (ídolo) não muito tempo atrás. Não esqueçamos que Rita ganhou o Festival dos Desconhecidos – uma competição de  calouros realizada em Setembro de 1962 – exatamente 2 anos antes – cantando ‘Ogni giorno’ (Love me warm and tender), sucesso de Paul Anka na Italia. Rita já confessara em entrevistas que começou a cantar públicamente imitando uma ‘simbiose’ de Paul Anka, Brenda Lee e Al Jolson. Ela devia estar exultante ao gravar com um de seus ídolos máximos da juventude.  Tudo era uma alegria só.

O texto de Günter Loose é fácil:  um rapaz americano e uma moça italiana começam um namoro num noite de luar, com um não entende a língua do outro.  Anka diz: ‘Italiano eu não entendo, e a pobre ‘bambina’ não entende inglês’.  Anka ainda tenta balbuciar: ’tutti-frutti, macaroni e gelati’... Rita ri e responde: ‘coitado do meu yankee, não sabe mais que isso’. No final ele declara: ‘Oh my honey, sweetheart, I love you!’  Acho que ela  consegue entender a mensagem de amor.

Apesar de ser a melhor música do compacto, no entanto as radios alemãs escolheram ‘Kiddy Kiddy kiss me’,  lado B do 45 rpm, que é mais rockeira. E foi assim que entrou nas paradas.


‘OKAY! OKAY!  – Rita canta ‘La partita di pallone’ em alemão em cima do mesmo play-back original idealizado pelo maestro argentino Luis Enriquez.  Apareceu como lado B de ‘Wenn ich ein Junge wär’ no final de 1963.  A letra diz que a garôta vai com o namorado ao cinema no sábado a noite; ao baile mais tarde; ele a leva p’ra casa etc. Parecem ser um casal feliz. Rita canta bem em alemão. Mesmo não sendo expert na lingua, já tentei cantarolar ‘Okay, okay’, mas não consegui... pois a língua enrola no meio!

Zwei Mädchen aus Germany’ – Aqui convido a algum fã de Paul Anka a escrever sobre suas músicas.

‘WENN ICH EIN JUNGE WÄR’ – Se eu fosse homem –  A 1ª gravação alemã de Rita.  Foi especialmente composta para ela, pois estava na cara que Rita garota do tipo ‘tom-boy’ (menina com jeitão de menino), preferindo vestir calças compridas e suspensórios e usar cabelo curtinho.  A idéia do texto partiu de Günter Loose para a bela melodia de Heinz Buchholz. Para quem  já ouviu ‘Si fossi un uomo’, a versão italiana contida no LP ‘Meus 18 anos’, o original diz a mesma coisa.  É uma garota revoltada por não poder chegar em casa tarde sem ouvir a mãe gritando. Ela chega a conclusão de que seria melhor se ela tivesse nascido homem pois tudo seria mais fácil. Ela poderia andar de motocicleta, ser um ‘centro-avante internacional’ e namorar (meninas) a vontade... No entanto quando ela pensa no namorado Tino e suas carícias, ela resolve aceitar seu destino de mulherzinha bonitinha!

‘Sunshine Baby’ - 

‘WENN DU DEINEN KLEINEN BRUDER SIEHST’ Quando você ver seu irmãozinho – Um rock dos bons onde o rapaz diz à namorada que avise ao irmãozinho dela para parar de atirar pedrinhas quanto eles estão se beijando sentados num banco. Para dizer-lhe que ele ainda é muito novo, mas um dia entenderá a problemática dos adolescentes que estão a fim de um ‘sarro’, e que namorar é bom. Rita gravou esse rock no mesmo dia (26 Setembro 1964) que gravou ‘Peppino aus Torino’, ‘Es is aus’ e ‘Bye bye blue Jeans’.  Ou seja, Rita gravou em um só dia, praticamente o LP inteiro, já que ‘Wenn ich ein Junge wär’ e ‘Okay okay’ já estavam prontas desde 1963.  Deve-se aqui elogiar a pronúncia alemã de Rita. Mesmo que ela tenha ‘sotaque’, conseguiu articular bem todas as músicas e diferentemente de seus esforços em inglês, que nunca foram recompensados com sucesso, na Alemanha, Rita conseguiu ser famosa cantando na língua deles.  Isso mostra que houve grande recepção por parte do público de lá.  Rita era famosa até na Alemanha Oriental tendo seus discos prensados pela Amiga, gravadora de detrás da ‘Cortina de Ferro’.

‘Der schönste Ankerplatz’

‘MEIN JACK, DER IST ZWEI METER GROSS’O meu Jack tem 2 metros de altura – Foi o segundo 45 rpm em alemão de Rita, tendo ‘Mit 17 soll man nicht weinen’ (Com 17 anos não se chora) no lado B. Eu conhecia uma menina de Criciúma-SC que tinha esse 45.  A melodia é manjadíssima: ‘Conto dos Bosques de Viena’, valsa famosíssima que Johannes Strauss compôs 98 anos antes, em 1866. A letra bolada pelo Günter Loose é bem pitoresca, e nota-se que Günter se inspirou na própria Rita (novamente) para compor, pois é a história de uma menina baixinha que gosta de um cara de 2 metros de altura que não lhe dá a mínima atenção. Ela não se avexa e diz que vai usar um vestido todo rôxo, chapéu verde e sapatos vermelhos para chamar sua atenção.  Imagina só a figura!  Até parece a situação de ‘Lacinhos cor-de-rosa’ da Celly Campello. Além disso ela ainda pretende se tornar um estrêla internacional.  Tudo para impressionar o tal Jack, de 2 metros de altura.

‘Elisabeth’

‘ES IST AUS’Está tudo terminado – Mais uma melodia de qualidade ao rítmo do rock. Talvez o melhor rock do disco. Está tudo terminado entre nós, pois você, realmente, não vale nada!  Assunto encerrado.

‘Sweet sweet Rosalie’

‘PEPPINO AUS TORINO’ –  Peppino de TurimGünter Loose bola outra letra baseada na figura da própria Rita Pavone, que nasceu e cresceu em Turim. Agora, invés do Jack, é o Peppino (Zézinho)  que não lhe dá a mínima bola. Musicalmente é alemã até o fundo d’alma. Uma grande orquestra dirigida por Werner Müller tocando um rag-time ou charleston com muito balanço (swing) anuncia a entrada triunfal da italianinha que arrasa na interpretação declarando que Louis Armstrong quis presentear-lhe seu piston;  que Frank Sinatra sempre lhe telefona; que Charles Chaplin a convida p’r’o chá das cinco; Elvis Presley simpatiza com ela; Maurice Chevalier acha-a talentosa; que Cassius Clay diz que ela é a maior do mundo; e até The Beatles a querem como o 5º elemento do grupo. Enfim, que ela é popular com quase todo mundo, menos com o Peppino de Turim.

Essa, talvez, seja a melhor gravação em alemão de Rita.  Foi lançada em Outubro de 1964, tendo por lado B uma belíssima balada ‘Bye bye blue Jeans’ (Tschau little boy), que não entrou no LP por ser um número lento, mas de uma beleza ímpar (vide comentário em ‘Bonus Track’).

‘Doch du hast keine Zeit’

‘KIDDY KIDDY KISS ME’ – Paul Anka leva a melodia novamente e Rita faz a harmonia em tom mais baixo.  Acho que era assim que funcionava Paul com suas parceiras. Ele se mostrando  como pavão, e ela, alí dando apoio ao ‘mega-star’. Anka sempre têve um tenor altíssimo desde os 16 anos quando gravou ‘Diana’ (1º lugar na Billboard em 29 Junho 1957). Rita também tem o mesmo ‘curriculum vitae’.  Voz fortíssima e altíssima. Mas o verdadeiro pavão aí é Paul Anka. Acostumou-se a brilhar bem cêdo em sua vida.  Cantou muito em circuitos de night-clubs dos EEUU, sendo um profissional desde 1956.

Kiddy Kiddy kiss me’ é rockinho bem bolado, mas musicalmente inexpressivo. Assim mesmo foi também gravado por banda holandesa, sul-africana e até pelos brasileiros The Clevers. Apesar de originalmente ter sido lado B, foi a música que mais tocou no radio alemão e acabou virando lado A, chegando ao posto  # 7 em 20 fevereiro 1965, da parada germânica.




BONUS TRACK:


‘BYE BYE BLUE JEANS’ (TSCHAU LITTLE BOY) – Adeus blue jeans - Tchau garotinho - Balada excepcionalmente bela composta por Heinz Buchholz, com letra de Günter Loose.  Arranjo inspiradíssimo de Werner Müller com orquestra e coro da RIAS. Sem dúvida, é minha favorita do repertório alemão de Rita. Fiquei exultante quando a escutei na antiga Radio Tupi e logo depois conheci Silvia Jentsch que tinha o 45 rpm alemão enviado por um primo seu que morava em Halle. Começa baixinho com a garota dizendo adeus aos seus blue-jeans (naquele tempo adulto não os usava) – uma metáfora significando adeus a infância. O acompanhamento orquestral vai num crescendo até explodir numa mudança de tom quando a menina nota o que a espera pela frente: um mundo adulto duro, onde ela terá que se encaixar. Depois do climax vem novamente um final suave muito triste.  Uma obra-prima do cancioneiro jovem popular.  Não sei como não a lançaram internacionalmente e nem porque Rita nunca a gravou em italiano ou inglês.



SINGLES de Rita Pavone na Alemanha (e alguns de Paul Anka também)



47-9454  La partita di pallone  / Come te non c’è nessuno

47-9468  Alla mia età  /  Il ballo del mattone

47-9485  Wenn ich ein Junge wär’ /  Okay! Okay!

47-9472  Cuore / Amore Twist

47-9513  Mit siebzehn soll man nicht weinen  /  Mein Jack, der ist 2 Meter gross

47-9531 Datemi un martello  / Che m’importa del mondo

47-9539 Zwei Mädchen aus Germany  /  Sunshine Baby  [Paul Anka]

47-9576  Sweet sweet Rosalie /  Doch du hast keine Zeit [Paul Anka]

47-9583 Peppino aus Torino  /  Bye bye blue Jeans [Tchau little Boy]

47-9601 Kiddy Kiddy kiss me  /  Ein Sonny Boy und eine Signorina  [Rita & Paul]

47-9610  Elisabeth  /  Der schönste Ankerplatz   [Paul Anka]

47-9630  Ich frage meinen Papa  /  Wenn du deinen kleinen Bruder siehst

3. The International Teen-age Sensation

THE INTERNATIONAL TEEN-AGE SENSATION – RITA PAVONE – BBL

1.  Remember me [Shelley Coburn] – 5 Maio 64 – arranj.:  Teacho Wiltshire
2.  Wait and see [Larry Kusik-Richie Adams] – arranj.: Stanley Applebaum
3.  Big deal [James Smith-Phil Andreen] – arranj.: Teacho Wiltshire
4.  Don’t tell me not to love you [Chip Taylor] – arranj.: Stanley Applebaum
5.  I can’t hold back the tears [Kornfeld-Keller-Kauffman-Ross] – G. Sherman
6.  Kissin’ time [Kal Mann-Bernie Lowe] – 5 Maio 64 – arranj.: Teacho Wiltshire

1.  Just once more [Al Western] – 5 Maio 64 – arranj.:  Teacho Wiltshire
2.  Like I did [Ben Raleigh-Russ Damon] – 6 Maio 64 –  arranj.: Stanley Applebaum
3.  The boy most likely to succeed [Lor Crane-Nadine Lewis] – S. Applebaum
4.  Little by little [Jean Thomas-Ted Cooper] – 6 Maio 64 –  arranj.: Garry Sherman
5.  Too many [Earl Shuman-Leon Carr] – arranj.: Garry Sherman
6.  Say goodbye to Bobby [Stewart-Bryant] – 6 Maio 64 –  arranj: Garry Sherman

Terceiro LP de Rita Pavone lançado no Brasil, em Novembro de 1964. Foi o maior choque da minha vida, quando meu irmão mais velho chegou em casa, dizendo que havia um disco em inglês [da maior cantora italiana  de então] à venda no centro da cidade. A Radio Bandeirantes começou a tocar ‘Kissin’ time’ em seu programa ‘Telefone pedindo bis’. Só consegui comprar o disco no dia 24 de Dezembro de 1964, dando a mim mesmo meu presente de Natal.

No início de 1964, a cúpula da  matriz da RCA Victor, em New York, planejou esse LP com todo cuidado.  Sabiam que tinham que aproveitar o potencial de vendas da jovem cantora italiana, que vendera milhões de discos na Europa;  trazê-la para os Estados Unidos, e assim ampliar as vendas mundialmente.  O ‘fenômeno Rita Pavone’, eles chamaram aqui de a ‘sensação adolescente internacional’. Rita foi chamada aos estúdios A da RCA, na rua 24, para ser ‘trabalhada’ por Joe René, produtor independente. René  havia ficado milionário produzindo o 45 rmp ‘Tossin’ and turnin’,  na Belltone, para o cantor Bobby Lewis, ficando em 1º lugar por 7 semanas, no verão de 1961, na Billboard, terminando o ano como o disco mais vendido .

A tarefa não era fácil, já que Rita não falava inglês.  Contrataram uma especialista em inglês-para-estrangeiros  e deram a tarefa dos arranjos e regência de orquestra a 3 maestros dos mais competentes.  O repertório foi quase inteiro de músicas inéditas, ou pouco conhecidas.  Era uma receita quase infalível.  Só não contavam que o gosto do público havia mudado sobremaneira naqueles primeiros mêses de 1964, com a invasão dos Beatles e da música britânica, que desbancou os cantores ‘teens’ do tipo Bobby Rydell, Bobby Darin, Bobby Vee, Bobby Vinton [os famosos Bobbys], Frankie Avalon, e outros.  The times they were a-changing, como diria o outro Bob... Dylan.  Os tempos estavam mudando muito rápidamente. Rita nunca conquistaria os U.S.A.  Mas assim mesmo o disco é uma pérola de bom gosto e excelência musical.

REMEMBER ME’ [Lembra-se de mim?] – uma pérola o arranjo, e a interpretação de Rita é extremamente convincente, mesmo com uma letra devéras banal [submissa] para uma garôta [supostamente] norte-americana de 1964.  É a história de uma moça, cujo namorado não olha mais para ela, nem quando a encontra na rua.  Algo patético, já nesses anos pré-Women’s lib. Olha o horror: ‘Você passa por mim, como se v.nunca tivesse me conhecido. Você nem siquer me olha, e passa como o vento’. Daí vem a parte mais abjecta; ela olha p’ro rapaz e implora: 'Você se lembra de mim? Você se lembra de mim?' É realmente um ‘chute-no-saco’.  Mas a melodia é agradável e o acompanhamento maravilhoso dos melhores ‘session musicians’ de New York. Há 3 guitarristas nesta sessão, sendo Vincent Bell, que viria a ficar famoso em 1970 com o ‘Tema de Aeroporto’ – aquela musica que parecia água pingando.  Parabéns ao maestro Teacho Wiltshire. E parabéns também a: Donyce Brown, Francine Caroll, Marilyn Jackson e Anne Phillips, pelo maravilhoso coro que repete ‘remember me, remember me’...

WAIT AND SEE’ [Espere e veja] – é uma mocinha que se ajoelha para rezar e pedir para que o namorado não se desespere pois, embora ela esteje muito longe, do outro lado do oceano, com certeza vai voltar, e pede para que ele acredite nela. Linda melodia;  arranjo fenomenal com uso de xilofone, marimba, dulcimer, e instrumentos que não consigo identificar até hoje. Há até o badalar de um sino, quando Rita diz que ‘está rezando como qualquer outra jovem enamorada’.  Linda de morrer. Até o inglês está impecável. Nota: 100. Parabéns ao maestro Stanley Applebaum pelo magnífico trabalho de criar um ambiente propício ao romance.

BIG DEAL’ [Grande coisa!] – É uma garôta dizendo ao namorado assim: ‘Grande coisa!',que você arranjou um novo amor. O que v. acha que eu devo fazer? V. acha que ela gosta de você, n’é? Mas isso ela vai ter que provar para mim.’  É o oposto da patética ‘Remember me’.  Aí sim, Rita está afirmando que é ‘dona do pedaço’, embora eu ache que essa musica foi feita para ser cantada por homem, pois nesse pedaço ela diz: ‘You’re not her only one, she’s only out for fun’ [Você não é o único dela... ela só saiu com você para tirar sarro’]. Não é uma atitude de menina, e sim de menino, que sai com garôtas para aproveitar delas sexualmente. Bem, digamos que Rita aí seja ‘super-emancipada’ e está ‘revertendo os papéis’. Rita cantou ‘Big deal’ no ‘Ed Sullivan Show’ na WCBS e no ‘Shindig’.  O arranjo é excepcional, com muito metais [em braza], guitarra, sessão de rítmo ardente... enfim, Joe René não economizou em horas de estúdio e músicos para produção dessa obra-prima. Sendo um número ‘up-tempo’ [corrido] o inglês fica mais dificil de pronunciar, e os erros mais profusos, mas devido a alta qualidade geral da gravação e interpretação, vamos dar nota 9. Parabéns ao maestro Teacho Wiltshire.

DON’T TELL ME NOT TO LOVE YOU’ – Não me peça para não amá-lo – de todas faixas do disco é a mais parecida aos seus sucessos italianos. Uma balada lenta, cheia de violinos em serenata. A letra é bonitinha. Ela pede ao namorado que acredite que ela o ama de verdade, mesmo ele não sendo o melhor em tudo; mesmo eles sendo de classes sociais distintas; mesmo o mundo inteiro estando contra.  Muito lindinha a gravação.

‘I CAN’T HOLD BACK THE TEARS’ [Eu não consigo conter as lágrimas] – lá vai Rita segura-de-si novamente.  Ela diz: ‘Mandei ele embora pq. queria minha liberdade. Como eu iria saber que ia sentir saudade? Mas eu fui tão idiota, e agora eu perdi o cara que eu mais adoro.  E eu não posso mais conter minhas lágrimas.’ Daí ela ‘perde o contrôle’ e diz: ‘Eu vou chorar até meus olhos ficarem inchados e vermelhos. Eu vou chorar até que ele volte p’ra mim.’  Puxa vida... isso é que é uma volta de 360º.  Primeiro é durona e depois chorona.  A melodia é bonita e o arranjo de Garry Sherman é perfeito, com as vozes femininas fazendo um ‘pai-no pai-no pai-no’ de arrazar.  Rita está ‘sensazionale’ nesta faixa.

‘KISSIN’ TIME’ – gravação sensacional, embora seja ‘requentada’, pois Bobby Rydell a gravou para a Cameo, levando-a ao 11º lugar da Billboard, em Agosto de 1959.  É um rock desenfreado sobre a ‘sede de beijar’.  Seria assim uma espécie de catálago-de-beijos nas varias localidades dos U.S.A., como a ‘arvore beijadora’ [sim, é isso mesmo], beijocas em Baltimore, nas praias, bicocas em Detroit, lá em Tennessee, além de de beijos históricos como a batalha de New Orleans. É uma composição feita para o gênero masculino, já que um rapaz normal não ‘resistiria’ ao beijo de uma garôta bonita. A RCA Victor local resolveu lançar ‘Kissin’ time’ como compacto-simples e trabalharam as radios, mas o brasileiro nunca esperava uma Rita Pavone cantando em inglês, e não comprou o disco, embora o LP tenha tido vendagem garantida, pois o que se acha dele pelos sebos de São Paulo é uma enormidade. Musicalmente a gravação é um ‘escândalo’... é excelente.  O arranjador Teacho Wiltshire não precisaria fazer mais nada em sua vida, pois já fêz sua ‘obra-prima’.  Metais, realmente, pegando fôgo;  a guitarrinha do começo ao fim quenem o diabo gosta; enfim, um show de excelência.  A pronúncia de Rita fica a desejar... e muito. É compreensível, pois o texto é muito compacto para pouca métrica. Não dá para entender a palavra 'U.S.A.' que é repetida várias vêzes. Provavelmente, Rita não sabia o que estava cantando, somente aprendendo ‘fonéticamente’ o que seria registrado para a ‘posteridade’. E a posteridade não perdoa. Mesmo assim, eu continuo achando que é uma das melhores faixas do disco... e parabenizo o pessoal da RCA Brasileira que escolheu essa faixa para ser o single do LP.  Se essa não ‘emplacou’, nenhuma outra emplacaria.

‘JUST ONCE MORE’ – é o lado B do 45 rpm ‘Remember me’ nos EEUU.  É um rock com muitos metais.  É a musica que Rita abriu sua tournee brasileira de 1965; portanto ela se sentia a vontade para interpretá-la ao vivo. Alma Coogan, cantora jovem britânica, já tinha gravado ‘Just once more’ em 1963, mas não entrou no mercado yankee.  O inglês de Rita, mais uma vêz, a atrapalha.  Demorou anos para eu entender: ‘Now, when I saw you esterday, I never would have thought’ [quando te vi ontem, nunca teria pensado...]. É a situação da moça que já namorou bastante, que já beijou muito, mas ainda quer ‘uma vez mais’.  Rita a gravou em espanhol como ‘Pido paz’. Wanderléa entrou na onda, e a verteu  como ‘Peço paz’, direto da gravação portenha [ou madrileña]. Não é uma tradução exata, mas o sentido é o mesmo... alguém que está querendo mais do mesmo, e não se satisfaz nunca. Nota 100 para os metais e seção rítmica do maestro Teacho Wiltshire.

‘LIKE I DID’ – agora entramos na parte mais ‘calma’ do LP. Linda balada, com muitos violinos, violoncelos, flautas e piano. Interpretação magnífica. O texto é bobinho, mas as grandes paixões adolescentes, são, as vêzes, bobinhas mesmo. ‘Você encontrou uma nova namorada, mas eu duvido que ela te ame como eu.’ E aí vai em frente, nessa mesma veia. Muito meiga e lírica. Emocionante. O maestro Stanley Applebaum sabe como machucar os corações com suas nuances melódicas. Nota de louvor às cantoras Elise Bretton, Lillian Clarck e Lois Winter pelo magnífico coro de background.

THE BOY MOST LIKELY TO SUCCEED’ [O rapaz com mais chances de vencer na vida] – gravada em 6 Maio 1964, essa é, talvez a melhor letra do disco, além de ter sido escrita para uma menina [mesmo] cantar. É comum nos EEUU, quando se conclui o 2º grau [8ª série], que os alunos coletem dinheiro para a publicação de um livro de final de curso, com fotos de todos diplomandos e pequenas biografias. Há várias seções, como ‘O mais popular entre as meninas [ou meninos]’, o mais ‘intelectual’, ou o que mais se destacou em esportes. Há também  uma página entitulada ‘O rapaz [ou moça] com o futuro mais promissor’. Os próprios alunos votam em seus colegas, e o que obtiver o maior numero de votos é eleito: ‘The boy most likely to succeed’. A histórinha dessa faixa é o ‘rapaz com a maior probabilidade de quebrar o meu coração’. Um verdadeiro golpe de mestre poético. Rita está impecável nesta gravação.  O coral feminino [Elise, Lillian & Lois, novamente] dando todo apoio, e o arranjo do maestro Stanley Applebaum, uma espécie de bossa nova ou uma balada-rumba, é de uma delicadeza a toda prova. ‘If credit is due, they’d give it to you, ‘cause you’d be the boy most likely to succeed in breaking my heart’...  Se está faltando crédito [em relação a notas] ele seria dado a você [o crédito] pois v. sem dúvida é o rapaz com maior probabilidade de quebrar meu coração’. Uma obra-prima de 2 minutos e meio. Uma sinfonia ginasial. Nota: 100 ou seria A+?

‘LITTLE BY LITTLE’ – outra obra-prima em 2 minutos e 40 segundos. Trombones anunciam que ‘aos pouquinhos você está quebrando meu coração’. Os metais arranjados harmônicamente por Garry Sherman são um sopro de vida em nossos corações. Rita canta magistralmente. Na verdade, o lado B desse LP é quase que uma sinfonia. É daquele tipo de disco que v. ouve da primeira até a ultima faixa sem parar. Tem uma qualidade uniforme permeando todas as faixas, exceto a primeira, que é mais ‘up-tempo’.

‘TOO MANY’ – o coral feminino arraza, e Rita entra na hora certa, com a pronúncia correta. Outra pequena obra-prima. Garry Sherman não esconde sua preferência pelo uso do trombone como instrumento principal. Muitas vêzes, muitas lágrimas, muitas traições; quantas vêzes você acha que eu acreditaria nas suas mentiras? O texto não é dos mais inteligentes, mas a melodia é impecável. Gene Rockwell, cantor sul-africano, gravou essa musica, e nota-se, que ele copiou a versão de Rita. Ponto para ela, que fez escola até para os próprios nativos da lingua inglêsa.

‘SAY GOODBYE TO BOBBY’ – Diga adeus ao Béto – melancólica melodia, dá uma pontada de tristeza pois é o LP chegando ao final. Esse é um disco que aprendi a apreciar demais. Começa bem, e termina bem. O texto de ‘Bobby’ é comum entre as músicas para adolescentes da época. Me lembra ‘Take good care of my baby’, escrito por Carole King, e levado ao 1º lugar da Billboard, por Bobby Vee, em Setembro de 1961. Está nas imediações. ‘Diga adeus ao Béto, muitas vêzes ele me chamou pelo seu nome / quando v. estava perto ele mudava de comportamento / mas se você não quisé-lo, mande o Béto de volta p’ra mim.’  Pode ser piégas, mas essa abnegação é bonita: ‘Fique com o Béto pq. ele gosta mais de você do que de mim, mas se v. não o amar, não o maltrate, mande-o de volta para mim.’  Linda maneira de terminar um disco maravilhoso. Pode não ter cumprido seu objetivo original: de fazer Rita Pavone famosa nos Estados Unidos, mas fêz, pelo menos, uma pessoa feliz: eu!

5. SMALL WONDER

S M A L L    W O N D E R   -  LSP-2996

1. Wait for me  [Sylvia Dee-Arthur Kent]  ar.:  Marty Manning
2. If you got a mind to  [P. Barrett-R. Maugeri] ar.:  Charles Calello
3. Splish splash  [Bobby Darin-Jean Murray] ar.:  Teacho Wiltshire
4. He’s got everything  [Doc Pomus-Mort Shuman]  ar.: Sammy Lowe  +
5. Turn her down [Ben Raleigh-M. Barkan]  ar.: Teacho Wiltshire
6. Baby [When ya kiss me] – Jackie DeShannon-Sheeley – ar.: Sammy Lowe [+]

1. It’s not easy  [Bernabini; English w: George David Weiss] ar.: Sammy Lowe +
2. Lipstick on your collar  [E. Lewis-G. Goehring]  ar.: Charles Calello
3. I’ll wait and wait  [Ben Raleigh-John Gluck, Jr.]     ar.: Sammy Lowe  +
4. Rubber ball  [A. Orlowski-A. Schroeder]  ar.:  Charles Calello
5. No one else will ever touch me  [Vassallo;  English words: Ebb]
6. How low is low  [Ben Raleigh-Jeff Barry]  ar.: Sammy Lowe  [+]


Lançado nos USA:  Dezembro 1964

+  produzido por Hugo & Luigi:
9 Janeiro 1964 – ‘He’s got everything’ orquestra de Sammy Lowe
10 Janeiro 1964 – ‘It’s not easy’ e ‘I’ll wait and wait’ arranjadas por by Sammy Lowe
‘Baby' e ‘How low is low’ foram, provavelmente, gravadas na mesma data, por Hugo & Luigi

todas as outras faixas foram produzidas por Joe Rene:
7 Julho 1964 – ‘Turn her down’ e ‘Splish splash’ arranjadas por Teacho Wiltshire
8 Julho 1964 – ‘Rubber ball’, ‘If you got a mind to’ e ‘Lipstick on your collar’ por Charles Calello
9 Julho 1964 – ‘Wait for me’ arranjada por Martin Manning.

‘Small Wonder’, que pode ser traduzido como Pequena Maravilha ou 'Só tinha que ser' foi o segundo [e ultimo] LP de Rita Pavone nos Estados Unidos. Na verdade, é uma pequena miscelânea, já que quase metade do micro-sulco foi produzido por Hugo & Luigi, dupla de famosos produtores independentes, e o resto das faixas produzidas por Joe Rene, o produtor ‘in totum’ do 1º LP.

No final de 1963 a RCA Victor norte-americana, vendo que a rockeira italianinha vendia aos milhões na Europa e America Latina, achou de bem trazê-la à New York para ali gravar um disco para o mercado yankee. RCA convocou Hugo & Luigi, que tinham levado a pequena Peggy March ao 1º posto da Billboard em 27 Abril 1963, com ‘I will follow him’, para fazer o mesmo com Rita. Não se sabe exatamente o que se passou no Estudio A da rua 24 em New York, pois Rita  gravou apenas cinco musicas em Janeiro de 1964, e o projeto não teve continuidade. Rita voltaria à New York em Maio, Junho e Julho de 1964 para continuar a maratona de gravações. Em Maio ela gravou todas as faixas do 1º LP norte-americano, que foi lançado em Junho, juntamente com o 45 rpm ‘Remember me’/’Just once more’.

No final de 1964, a RCA finalmente lança o ‘Small Wonder’, contendo as primeiras gravações produzidas por Hugo & Luigi e as ‘sobras’ das sessões com Joe Rene. ‘Small Wonder’ não tem a homogeneidade artística do ‘International Teen-age Sensation’, nem sua alta-qualidade, mas traz pérolas como ‘Turn her down’, ‘If you got a mind to’ e ‘Wait for me’, linda balada e a ultima a ser gravada, que a RCA tinha como ‘trunfo’ para subir aos píncaros da parada da revista Billboard. Só que entre o convite à Rita para gravar para o mercado norte-americano e seu lançamento aconteceu algo inusitado:  o aparecimento dos Beatles e a mudança total dos ventos.  Durante o primeiro semestre de 1964 os USA foram invadidos pelos vários conjuntos inglêses ‘cabeludos’ e o gosto dos teen-agers de lá mudou radicalmente. De-repente a ‘mocinha chorosa’ representada pela Little Peggy March ficou ‘demodê’... e as músicas que Rita gravou eram exatamente nessa veia.

Infelizmente Rita chegou tarde demais aos USA.  Esse porém não foi o único obstáculo de Rita. O adolescente dos Estados Unidos nunca teria um ídolo que fala [ou canta] com ‘sotáque’, pois lembrariam de seus próprios pais imigrantes operários, quitandeiros ou lixeiros. Rita nunca teve a mínima chance de ‘vencer’ nos EEUU pois ela era ‘estrangeira’ e ‘estrangeiros’ são consideredos ‘inferiores’ aos olhos do norte-americano.  Essa é a triste realidade no grande irmão do norte.

Então, não consideremos os êrros e tropeços gramaticais que Rita eventualmente comete nessas gravações e vamos comentar as faixas pelo simples valor intrínseco delas, ou ‘face-value’ [valor de face]. Para o norte-americano, Rita era ‘lixo’, mas para nós, latinos-americanos, Rita era o que havia de melhor e mais moderno.  Uma rockeira da pôrra! Afinal nós éramos um país atrazado do Terceiro Mundo que olhava o Primeiro [Mundo] com olhos arregalados de cobiça e maravilhamento. Não mudamos muito desde então.  Continuamos a ser um país que exporta matéria prima para países mais adiantados tecnicológicamente [China atualmente] que nos enviam produtos industrializados de valor-agregado. No entanto, devido à revolução da  informática,podemos dizer que a diferença entre esses mundos ficou menor.

Small Wonder’ nunca foi lançado no Brasil ou na Argentina, mas ele foi ‘retalhado’ e distribuídos nos dois países como parte de LPs [vide ‘Ritorna’ e ‘Volvió la Pecosita’], compactos-simples ou compactos-duplos.  Na verdade, as faixas não lançadas aqui ou na Argentina são exatamente as mais fracas do disco:  ‘He’s got everything’, ‘It’s not easy’ [versão de ‘Non è facile avere 18 anni’], ‘No one else will ever touch me’ [versão de ‘Come te non c’è nessuno’] e ‘How low is low’.  As duas versões de italianas são, realmente, bem fraquinhas.

‘WAIT FOR ME’Espere por mim –  [Sylvia Dee-Arthur Kent]  ar.: Marty Manning – Essa balada teria sido o single com o qual Rita ‘conquistaria’ os norte-americanos, mas isso não chegou a acontecer. Ela cantou diversas vêzes no ‘Ed Sullivan Show’, o programa de maior audiência de lá, mas seu sucesso pessoal de domingos não se traduziu na vendagem de discos.  Rita ficou tão próxima do ‘urso’ Ed Sullivan, que o convidou para ser seu apresentador no show que fez no Carnegie Hall em Janeiro de 1965.  ‘Wait for me’ é uma linda balada com um estilo que lembra levemente as da Brenda Lee em sua fase de ouro, sempre acompanhada ao piano. É uma garotinha pedindo àquele a quem ela idolatra, que espere até ela ficar ‘grande’.

‘IF YOU GOT A MIND TO’Se você quiser – vide ‘Volvió la Pecosita’ -

‘SPLISH SPLASH’ -  [Bobby Darin-Jean Murray] arranjo:  Teacho Wiltshire – Re-gravação de sucesso que Bobby Darin levou ao # 3 da Billboard em 30 Agosto 1958. Não faz muito sentido na voz de Rita, mas não deixa de ser interessante. Mais comentários vide ‘Ritorna’ e ‘Volvió la Pecosita'.

‘HE’S GOT EVERYTHING’ - [Doc Pomus-Mort Shuman]  ar.: Sammy Lowe – Os autores são da melhor qualidade no mundo do rock-pop, tendo composto mega-sucessos como 'A teenager in love' [Dion], 'Save the last dance for me' [Coasters], 'This magic moment' [Jay & the Americans], além de sucessos do Elvis Presley, como 'Little sister', 'Suspicion', 'Viva Las Vegas' etc. 'He's got everything' [Ele tem tudo] não chega a ser ruim... mas não tem nada de especial. Foi a primeira gravação que Rita fez nos USA.

‘TURN HER DOWN’ - [Ben Raleigh-M. Barkan]  ar.: Teacho Wiltshire. Para mim é a melhor faixa do disco. Os metais famosos de Mr. Wiltshire e a seção rítmica são impressionantes. Pena que não a lançaram no Brasil, pois é faixa para dançar sem parar. Vice comentários em 'Volvió la Pecosita'.

‘BABY’ [When ya kiss me] – Jackie DeShannon-Sheeley – ar.: Sammy Lowe.  Veja ‘Ritorna’ e ‘Volvió la Pecosita’ para mais comentários sobre ‘Baby’. Arranjo magnífico de Sammy Lowe, onde Rita se dá muito bem com um rítmo tão irregular.  Isso só mostrava que Rita era um ás do rítmo e cadência.

‘IT’S NOT EASY’Non è facile aver 18 anni - [Bernabini; E.w: George David Weiss] ar.: Sammy Lowe.  Versão para o inglês de ‘Non è facile avere 18 anni’.  Eu nunca fui fã do original, embora admita que o arranjo seja ótimo. Já o arranjo de Sammy Lowe não tem a mesma beleza do original.

‘LIPSTICK ON YOUR COLLAR’ - [E. Lewis-G. Goehring]  ar.: Charles Calello – Re-gravação de sucesso de Connie Francis.  Será que estava faltando material original na RCA?  Arranjo ótimo e gravação muito boa, mas não deixa de ser um ‘prato requentado’.

‘I’LL WAIT AND WAIT’  [Ben Raleigh-John Gluck, Jr.]  ar.: Sammy Lowe -  A melodia tinha quase 100 anos quando gravada em 1964, pois é a valsa ‘Contos dos Bosques de Viena’ de Johannes Strauss.  Sammy Lowe fez um rock com uma marcação de sino-de-vaca.  O play-back ficou supimpa.  Tanto que Rita gravou em alemão em cima desse play-back apenas duas semanas depois, em Berlin, e fez sucesso lá com ‘Mein Jack, der ist Zwei Meter gross’.  Eu conheci a versão alemã antes de ouvir o ‘Small Wonder’ – oito anos depos, em 1972. Sempre preferi o ‘Mein Jack’.

‘RUBBER BALL’Bolinha de borracha –  [A. Orlowski-A. Schroeder] ar.:  Charles Calello – Já tinha sido gravada e levada até o # 6 por Bobby Vee em 12 Dez 1960. Mas o arranjo de Charles Callelo é realmente ótimo e o andamento sensacional. Rita, apesar do inglês, brilha. Mais comentários, vide ‘Volvió la Pecosita’.

‘NO ONE ELSE WILL EVER TOUCH ME’Ninguém me tocará nuncaCome te non c’è nessuno   [Vassallo;  English words: Ebb]  Só pelo título já se vê que é uma ‘bomba’. Imagina um título desses em 1964. O mundo já tinha mudado bastante para que garotas ainda fizessem votos de castidade eterna. Os tempos estavam mudando rapidamente e o produtor não percebeu. Parece incrível que seja versão de uma preciosidade chamada ‘Come te non c’è nessuno’.  Estragaram a letra e o rítmo ficou anêmico. Não se sabe nem o nome do arranjador.

‘HOW LOW IS LOW’ - [Ben Raleigh-Jeff Barry]  ar.: Sammy Lowe.  Mais uma das gravações pioneiras em inglês.  Infelizmente uma musica inexpressiva, cujo título ‘How low is low’ [Quanto baixo é baixo] condiz com a qualidade [ou falta de] dela.


Observações finais:

Diferentemente de ‘The International Teen-age Sensation’ que contém 12 pequenas obras-primas, esse ‘Small Wonder’ não chega a ser ruim.  Eu o dividiria assim: um terço é ótimo [‘Turn her down’, ‘If you got a mind to’, ‘Rubber ball’ e ‘Wait for me’];  o segundo terço é de ótimo a bom [‘Baby’, ‘Lipstick’, ‘Splish splash’, ‘I’ll wait and I’ll wait’ ] e o ultimo terço é realmente de ‘amargar’ [‘He’s got everything’, ‘How low is low’ e as duas versões ‘It’s not easy’ e ‘No one  else will ever touch me’]. 

6. GIAN BURRASCA

1.  Viva la pappa col pomodoro
2.  Casa mia
3.  Il serraglio
4.  Stasera sogno
5.  I tigrotti di Mompracem
6.  Le piccole stazioni
7.  Gian Burrasca

1.  Sei la mia mamma
2.  Tango della scuola
3.  Nostalgia di casa
4.  Le bugie e la verità
5.  Un amico
6.  I gatti di Roma
7.  Addio Giornalino

all songs written by Lina Wertmüller [words] and Nino Rota [music]
arrangements and orchestra direction by Luis Enriquez
citar in ‘Viva la pappa col pomodoro’ played by Anton Karas.